segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Sou minha própria paisagem

Não sei quantas almas tenho
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem
Assisto à minha passagem
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser
O que segue não prevendo
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.

Alberto Caeiro

3 comentários:

Melina disse...

Linda poesia, essa eu ainda não conhecia! O blog tá muito bonito! Um beijo.

disse...

BELA PAISAGEM!!

=]

Eduardo Lamas Neiva disse...

Alberto Caeiro (Fernando Pessoa), eis meu predileto. Você bem notou as semelhanças/influências.
Grato pela visita ao meu blog e ao comentário.
Beijos,
Eduardo Lamas.